4.2.16

O tempo


















Porque eu sei que o tempo sempre anda
como uma pequena ave rumo aonde só ela sabe
que vai
deixo que o destino transpareça nas tuas mãos
e a cor do teu rosto
tenha a vontade de sempre ires
onde queres chegar

esta tua cidade
dentro dos muros
para lá de cada colina onde estiveste
esta casa onde o tempo se agacha
e contempla vagamente o crepitar laranja
da lareira
é aqui que sabe bem despir o casaco
descalçar os sapatos
e aninhar-me
como se o mundo fosse do tamanho
donde nós cabemos

as histórias alargam-se
e falam das memórias e dos desejos
do futuro que a magia prediz
enfeitiçada do nosso beijo
e dum peito cheio a rebentar do desejo
do teu corpo

o resto tanto me faz
são afagos de detalhes breves
são as tuas mãos no meu peito
e o teu cabelo em desalinho
colado nas costas
nos movimentos desritmados
nos desenlaces prolongados
e no som seco das costas batendo na cama
no ar entrecortado das nossas gargantas secas
dos nossos lábios húmidos
e deste poema sempre inacabado
como o tempo
infinito para além de nós.

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